quarta-feira, 17 de março de 2010

Crescer sem pai...

Todos os anos, sempre que o dia do Pai se aproxima, sinto novamente aquele pequeno vazio no coração, aquele não-sei-quê que me faz pensar se tudo não podia ter sido diferente na minha vida.
A verdade é que a figura paterna é realmente fundamental para qualquer filho/filha, mas a sua ausência/negligência não serve de refúgio para o fracasso de qualquer jovem, pelo menos não deve servir.
Nem sempre a vida nos sorri como gostaríamos, e em cada queda, em cada mágoa é bom regressarmos ao refúgio da nossa família para nos recompormos, para aqueles que partilham laços de sangue connosco dizerem "Tu és capaz, porque eu acredito em ti".

É também nas nossas maiores alegrias que corremos para os braços daqueles que depositam em nós as maiores esperanças, que inevitavelmente nos consideram seres especiais

Mas como são estes momentos quando um pai não está lá?! E quando não vemos o rosto dele ao nos levantarmos do chão?! Nem mesmo quando colocamos o melhor sorriso no rosto, quando sentimos que temos uma luz propria que brilha porque conseguimos algo pelo qual tanto lutámos.

Nessa altura divagamos sobre se fomos boas filhas/filhos, se fizemos algo de errado sem perceber, se foram os nossos sonhos que afastaram alguém tão importante.

E depois percebemos que não, que ele escolheu um caminho desde o nosso primeiro dia neste mundo, e esse caminho segue por um trilho longe do nosso, com altos e baixos que não permitem sequer olhar para o lado e repensarmos tudo.
E quem o pode condenar? Existem pessoas que não nasceram para ser pais/mães, o erro é sempre pressuporem que os outros é que não nasceram para serem filhos deles. É lembrarem-se que afinal os filhos existem quando estes já se habituaram à sua ausência, para depois desfolharem todas as nossas crenças no nosso futuro, na nossa pessoa. Para nos atirarem para uma série de reticências até percebermos que o que não tem remédio, remediado está, que a vida segue o seu rumo e certas coisas precisam de um ponto final.
Hoje, eu-mulher-filha-esposa-profissional-neta-sobrinha-amiga, ponho-te um ponto final sem remorsos, sem desculpas, sem acusações, porque assim poderei ser alguém melhor para o mundo. E tu serás...apenas tu.

6 comentários:

  1. ... deixaste-me com a lágrimazita a querer saltar.

    Força querida!

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  2. A julgar pelo pouco que vou conhecendo de ti, mesmo com um pai ausente tornaste-te numa grande Mulher!
    Beijinho

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  3. Até este preciso momento nunca tinha lido um relato tão exacto da minha relação com o meu pai...

    Os meus pais divorciaram-se quando eu era pequenita, e á medida que os anos passavam fui-me apercebendo que afinal ele se tinha divorciado das filhas também.

    Cresci a hora e meia de distância dele e a vê-lo uma vez por ano, quando não era de 2 em 2 ou de 3 em 3!

    O meu pai é um jornalista respeitadíssimo no meio, vive rodeado de amigos e é um padrinho maravilhoso para a sua afilhada, uma menina da idade dos seus netos (que ele nem sabe sequer quando fazem anos!) filha de uma amiga jornalista, chegou até a comprar uma cadeira isofix(só as mais caras do mercado!) para meter no seu carro, para quando vai com a esposa passear com a menina, isto entre outros mimos do género!

    Um dia, não há muito tempo, ele disse-me (por e-mail) para eu nunca duvidar do seu infinito amor por mim, se não fosse tão triste até me dava vontade de rir...

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  4. meu bem tu és óptima e não tiveste culpa de nada. é mesmo isso que disseste, caminhos que se escolhem. foi um todo de situações complicadas que se passaram e quem mais sofreu sem saber nem como nem porquê foste tu mas o resultado tá à vista, tu és melhor que ele!
    *um beijo grande

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  5. Me e Soinita

    Obrigada são umas queridas

    Lee

    Como te entendo, infelizmente não somos só nós as 2 nesta situação, mas sim milhares de pessoas por todo o mundo.
    O segredo é acima de tudo provar que podemos escrever a nossa história, mesmo com uma lágrima que teima em cair.

    Fumo Branco

    Obrigada por estares sempre lá, cá, onde e quando eu mais preciso de ti. Eu tenho sorte porque tenho óptimas amigas(os).

    Beiju para todas

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  6. Não existe culpa. Existe vontade. E quando ela é grande ultrapassa tudo. Mas quando não queremos, não há nada a fazer.
    Saberás ser mãe e pai dos teus filhos quando assim o tiver de ser, porque sentes. E isso basta.

    Felizmente tenho o pai que tenho. Conhecendo-o como conheço sei que não é de dar parte fraca nessa coisa dos sentimentos.
    Mas, surpreendi-me ai saber que esteve na escola do meu irmão a falar para os putos e à pergunta "nunca se arrependeu de ter tido filhos?" ter respondido algo como "sabes, eu tive a sorte de os ver nascer aos dois...um dia vais perceber que essa pergunta não faz sentido".

    Acredito piamente que o sr teu pai, que o será sempre, nem que seja só no papel, tem um desgosto enorme de não poder ter tido o prazer de te acompanhar a partir de determinada fase da tua vida.
    Mas a escolha foi dele. E agora, suspire.

    Beijo Ana

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