Gravidez de alto risco. 31 semanas de gestação. Um despertar aparentemente normal. Sangue. Muito sangue. Uma viagem a 200km/h para o hospital. Um quarto de bebé em obras, sem o enxoval todo, sem mala da maternidade feita e sem uma despedida em condições do meu ninho enquanto pré-mamã. Não voltaria para casa grávida. Um internamento imediato. Um batalhão de gente de volta de mim com catéteres, injecções, exames e maquinetas a apitar. Muito sangue. Um episódio de taquicardia. O pensar que ia bater a bota ali sem conhecer a minha filha. Muitos palavrões à minha volta. Maturação pulmonar. Corticóides. Um contrariar permanente da ansiedade que se queria apoderar de mim. Sempre em prol dela. 48 horas internada ao lado do bloco de partos. Menos sangue. Internamento até ao parto. Podia acontecer a qualquer momento. Um marido que tem de decorar e preparar um quarto e uma mala para a maternidade sozinho. Viver numa cama. Sentir-me um ser humano totalmente inválido por nem um banho poder tomar. Ecografia morfológica com uma bebé de 1,300kg. Não pode nascer. Não pode nascer. Noites seguidas a dormir com o ctg ligado. Uma semana depois transferência para um quarto. Sangue. Transferência de urgência para baixo. Um futuro papá com o coração nas mãos. Quadro estável. Frases que continuam a ecoar sem parar. Cuidado. Possibilidade de uma hemorragia massiva. Possibilidade de trombofilias. Possibilidade de perder o útero. Nova ecografia, agora com 1,600kg. Ainda é muito pequenina. Temos de aguentar até às 34 semanas. Sentimentos contraditórios. O medo que ela nasça e a vontade de que isso aconteça para ultrapassar tudo. Nova transferência para o quarto. Cinco dias depois nova hemorragia. Mas quase sem sangue. A bebé rebentou a bolsa. Tem de nascer. Antes que a hemorragia comece. Feriado Nacional. Médica que voa para o hospital. Sala de cesariana pronta. Aí vamos nós. Último ctg. Não se ouve o coração da bebé. Entrada rápida na sala. Epidural. Não faz efeito. Mais um pouco nada. A bebé tem de sair. Avança-se. A epidural não tinha surtido efeito. Entro em choque. Acordo sem bebé, sem saber onde estou e com dores. Tudo tinha corrido bem. Eu sou apenas um caso num milhão a quem mais vale dar uma anestesia geral. Recobro tranquilo.Meia hora depois já falava ao telemóvel. E a bebé dava sinais de ser uma guerreira. Um regresso ao quarto para encontrar algumas lágrimas disfarçadas e um enorme alívio. A certeza de que independentemente de tudo as coisas correram da melhor forma possível. Daí em diante o hospital passaria a ser a minha casa e a minha casa apenas uma cama. Até regressarmos os três a casa em sinal de vitória e começarmos a viver a nossa vida como sonhámos.
Afinal de contas dia 17 de Setembro foi apenas o principio...
Foi um início atribulado e nada fácil, mas muitas alegrias vieram e ainda mais virão. :)
ResponderEliminarBeijinho