CARTA ABERTA A ANGELA MERKEL
Cara chanceler Merkel,
Mesmo assim, como o nosso governo há algum tempo deixou de obedecer às
leis deste país e à Constituição da República, dirigimos esta carta
directamente a si. A presença de vários grandes empresários na sua
comitiva é um ultraje. Sob o disfarce de "investimento estrangeiro", a
senhora chanceler trará consigo uma série de pessoas que vêm observar as
ruínas em que a sua política deixou a economia portuguesa, além da
grega, da irlandesa, da italiana e da espanhola. A sua comitiva junta
não só quem coagiu o Estado Português, com a conivência do governo, a
privatizar o seu património e bens mais preciosos, como potenciais
beneficiários desse património e de bens públicos, comprando-os hoje a
preço de saldo.
E não estamos sozinhos. No próximo dia 14 de Novembro, dois dias depois
da sua anunciada visita, erguer-nos-emos com outros povos irmãos numa
greve geral que inclui muitos países europeus. Será uma greve contra
governos que traíram e traem a confiança depositada neles pelas cidadãs e
cidadãos, uma greve contra a austeridade conduzida por eles. Mas não se
iluda, senhora chanceler. Também será uma greve contra a austeridade
imposta pela troika e por todos aqueles que a pretendem transformar em
regime autoritário. Será, portanto, uma greve também contra si. E se
saudamos os nossos povos irmãos da Grécia, de Espanha, de Itália, do
Chipre e de Malta, saudamos também o povo alemão que sofre
connosco. Sabemos bem que o Wirtschaftswunder, o “milagre
económico” alemão, foi construído com base em perdões sucessivos da
dívida alemã por parte dos seus principais credores. Sabemos que a
suposta pujança económica alemã actual é construída à custa de uma
brutal repressão salarial que dura há mais de dez anos e da criação
massiva de trabalho precário, temporário e mal-remunerado, que aflige
boa parte do povo alemão. Isto mostra também qual é a perspectiva que a
senhora Merkel tem para a Alemanha.
É plausível que não nos responda. E é provável que o governo português,
subserviente, fraco e débil, a receba entre flores e aplausos. Mas a
verdade, senhora chanceler, é que a maioria da população portuguesa
desaprova cabalmente a forma como este governo, sustentado pela troika e
por si, está a destruir o país. Mesmo que escolha um percurso secreto e
um aeroporto privado, para não enfrentar manifestações e protestos
contra a sua visita, saiba que essas manifestações e protestos ocorrerão
em todo o país. E serão protestos contra si e aquilo que representa. A
sua comitiva poderá tentar ignorar-nos. A Comissão Europeia, o Fundo
Monetário Internacional e o Banco Central Europeu podem tentar
ignorar-nos. Mas somos cada vez mais, senhora Merkel. Aqui e em todos os
países. As nossas manifestações e protestos terão cada vez mais força.
Cada vez conhecemos melhor a realidade. As histórias que nos contavam
nunca bateram certo e agora sabemos serem mentiras descaradas.
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