quarta-feira, 7 de julho de 2010

Capítulo I

O telemóvel tocou e acordou sobressaltado, olhou de relance para o relógio e percebeu que tinha adormecido durante largas horas na poltrona.
Tirou o telemóvel do bolso e viu o nome de Bruno no ecrã, provavelmente queria ir beber um copo como todas as sextas-feiras, mas hoje a única coisa que Rafael precisava era de algum sossego.
Foi em direcção à cozinha, acendeu a luz e encostou-se à ombreira. Tudo estava exactamente como tinha deixado na noite anterior, à excepção dele mesmo.
Vislumbrou-se na enorme parede espelhada que cuidadosamente tinha escolhido e imaginou como seria a sua imagem daí por uns escassos meses.
Era um homem bonito, sabia-o bem. Ainda jovem, o seu cabelo tinha assumido um leve tom grisalho que constrastava com os seus olhos verdes e as suas longas pestanas.
Tinha sido abençoado com um corpo bem definido, fruto da sua grande paixão pela vela. Era um homem solitário, desprendido das relações humanas, no veleiro dependia apenas dele próprio e da Mãe Natureza, era muito mais do que um escape, era a sua maneira de encarar a vida em toda a sua plenitude.
Como um executivo bem sucedido, não misturava trabalho com prazer, gostava de ser respeitado pela sua atitude autoritária e tinha consciência que estava rodeado por belas mulheres que além de inteligentes eram ambiciosas. Os caprichos da carne tinham momentos oportunos para serem saciados e não podiam interferir com aquilo que de mais precioso tinha, a sua empresa.
Era quando saia com Bruno, que se despia de todos os artifícios para se revelar como um homem sedutor e descontraído. Encantava-o a incerteza da noite e a prosmiscuidade dos encontros com perfeitas desconhecidas.
Naquelas horas de prazer tudo era possível, a mulher que beijava era sempre alguém que não iria rever. Não se permitia a laços amorosos, tinha um plano de vida estipulado e contava cumpri-lo, até hoje.
Olhou em redor e sentiu que estava mais sozinho do que nunca.

Sem comentários:

Enviar um comentário