sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Há vida em mim...

Viajo no tempo. Até à manhã do dia 5 de Outubro de 2011. Aquele destino finteiro resolveu trapassar-me no momento em que ia começar a tomar o pequeno-almoço. É hoje. No corrupio de enfermeiras à minha volta lembro-me de sorrir com um nervoso miudinho à mistura. Afinal o papá vai assistir. Afinal não vou estar sozinha. E a minha Dra? A Dra. vem a caminho. Mais um voto de tranquilidade. Depois passou tudo muito rápido. Demasiado rápido. Quando dei conta já não vivias mais em mim. Vivias em todos nós. As fotos que me ia chegando pelo papá deixavam-me atónita. Os tubos, os cateteres e os fiozinhos que me impediam de te ver, tão pequenina e indefesa, eram assustadores. Mas no meu coração eu sabia que tudo ia correr bem. Eras minha filha e tinhas de ser obstinada e teimosa como eu o senti durante aqueles sete meses. Ela não precisou de ventilação. Ela não pára de dar às pernas. Ela é tão pequenina e tão linda. A minha alma ia insuflando como um balão a cada frase. Não me consegui levantar após as 12h. Não te queria conhecer naquele estado. Passei toda a noite a tentar identificar o teu choro no meio de tantos bebés. Mal eu sabia que o teu choro não podia chegar a mim. Mal eu sabia que tu não choravas. Nem ias chorar nesses dias. Tinhas que crescer e chorar não era importante. No dia seguinte, a caminho da Neo, vi pais a caminho do banho com os bebés e tive inveja. Inveja por tudo ser diferente comigo. Inveja por não te ter abraçado quando nasces-te. Inveja por não conhecer o teu rosto. Inveja por não te poder sequer pegar ao colo. Depois. Depois cruzei aquela porta e vi-te. Explodi num choro desmedido. Recompus-me logo de seguida. Daí em diante eras a razão da vida que há em mim. Não era importante se não te pegava ao colo. Importante era ver-te a aceitar o leite. A aumentar de peso. A normalizar os valores. Não era importante se passava o dia no hospital. Quando já te podia dar peito, banho, vestir-te com aquelas roupas dignas de um gigante, dar-te colinho, adormecer-te, colocar as músicas da Adele baixinho e continuar a ver-te crescer. Importante foi teres tido alta tão rápido e ter ouvido da boca das enfermeiras como justificação "Ela não precisa de nós, são vocês que já fazem tudo por ela aqui portanto é hora de ir para casa". E fomos. E cá continuamos. A ver-te crescer. A ver-te ultrapassar barreiras. Agora já choras. E ralhas. E continuas teimosa e obstinada. Mas sorris muito. E pedes mimos. E fazes charme. E recebes mais miminhos por isso. E continuas a dar às pernas de felicidade. E a enrugar o nariz quando as coisas não correm como queres. Ou a queixar-te para a Bimby quando faz muito barulho. E a ensopar-me quando chapinhas no banho. Ou a chorar quando o pai espirra. E a fugir a alta velocidade quando és apanhada a fazer disparate. E a chegar até nós a alta velocidade quando nos revês depois de um dia de trabalho. 
Só passou um ano e já vivemos tanto que parecem cinco. Mas afinal já passou um ano? O tempo não espera. Mas não faz mal, o coração está cheio, a memória vai ganhando um doce cor-de-rosa e há vida em mim.

Parabéns filha, que sejas muito feliz por toda a tua vida.
Coração Mãe

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